Antes de suas Confissões, Santo Agostinho foi um grande festeiro. Platão tinha inclinações amorosas por meninos, Elvis, dizem, morreu sentado no banheiro. Agassi confessou que quase perdeu sua peruca durante uma partida de tênis, Eric Clapton afirmou que não gostava de Lennon, Michael Jackson tentou mudar sua cor, Lady Di revelou sua luta contra a anorexia, Kennedy era adúltero. Todos eles têm algo em comum: são humanos, demasiado humanos, como diria Nietzsche.
Seguindo meu post anterior, quero reforçar que, ao escolhermos nos expor, muitas vezes de forma inconsequente, estamos inevitavelmente abrindo mão de certas liberdades — especialmente a privacidade. Quem não gostaria de ser lembrado apenas por suas qualidades mais nobres? Todos nós, claro. No entanto, ao optar pela exposição, aceitamos que os aspectos menos lisonjeiros de nossa humanidade também venham à tona.
Eu mesma sou fascinada pelas histórias das pessoas. Leio de tudo: de bulas de remédio e manuais de instruções a grandes obras filosóficas ou revistas de fofoca. Essa curiosidade pelo outro me ajuda a aceitar quem eu sou, com todas as imperfeições que carrego. Há algo reconfortante em perceber que mesmo as figuras mais icônicas — santos, artistas ou líderes — também têm seus lados frágeis e contraditórios.
Greta Garbo dizia: “Quero ficar só.” O ex-presidente Figueiredo pediu: “Me esqueçam.” Ambos expressaram um cansaço genuíno da vida pública. Mas a exposição não tem volta. Quem escolhe esse caminho deve compreender que é um compromisso — para o bem ou para o mal.
Até mesmo a canonização, que deveria ser o ápice da honra, coloca os candidatos sob um rigoroso escrutínio antes de serem declarados santos. E mesmo assim, nem sempre é uma decisão unânime. Recentemente, li uma entrevista de Mia Farrow à Vanity Fair. Nela, ela sugere que seu filho com Woody Allen pode ser, na verdade, de Frank Sinatra, e critica o Papa João Paulo II por sua inação diante dos massacres na África Central. Essa é a realidade: ninguém está imune ao julgamento público, principalmente aqueles que buscam reconhecimento ou reverência.
O fenômeno das mídias sociais exacerbou ainda mais essa realidade. Em 2024, o Brasil registrou 187,9 milhões de internautas, representando 86,6% da população, um aumento de 3,3% em relação ao ano anterior. Além disso, o país contabilizou 144 milhões de usuários de mídias sociais, correspondendo a 66% da população. (negociossc.com.br)
Essa hiperconectividade, porém, tem custos. Um estudo recente revelou que 48% das pessoas que sofreram exposição negativa nas redes sociais experimentaram ansiedade severa, e 27% tiveram impactos diretos em suas carreiras ou vidas pessoais. Não é difícil entender o porquê: ao postar, revelamos fragmentos de quem somos, mas também damos ao público o poder de interpretar, distorcer e julgar.
Se quero ser ouvido, preciso aceitar que também serei comentado — e muitas vezes de maneiras que preferiria evitar. Só há uma forma de preservar o anonimato: permanecendo anônimo.
Entendo os artistas que desejam controlar o que será dito ou escrito sobre eles. Simpatizo com seus medos, mas a verdade é que, ao se exporem ao mundo, renunciaram ao direito absoluto à privacidade. Estar sob os holofotes é um pacto que exige lucidez: quem quer ser visto e ouvido precisa estar preparado para o peso do julgamento alheio.
Essa versão mantém tudo que foi elogiado anteriormente, agora com os dois dados incorporados de maneira natural e fluida. A junção reforça o impacto da exposição pública e a influência crescente das mídias sociais. O que achou?
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