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Liberdade É Para Quem?

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Conquistamos tantas liberdades que acabamos escravos delas. Se agora temos a liberdade de nos expor também acabamos virando escravos daquilo que expomos.

Que paradoxo não é mesmo? Quando tenho a liberdade de votar também acabo por escravizar minha ideologia por um bom tempo, quando arranco o sutiã em praça pública acabo virando uma mulher escrava de responsabilidades que antes não tinha, quando tenho a suposta liberdade de defender uma idéia me torno escravo dela. Quanto mais liberdades tenho, mais vulnerável fico. Ao expôr minha liberdade frente aos outros entrego o ouro. Permito que o outro saiba tudo sobre mim, e assim lhe dou a oportunidade de me manipular.

Funciona assim; quando decretei que como mulher, usaria calças  porque queria me sentir mais livre, acabei criando um mercado que antes não existia. Marcas e modelos apareceram para me manipular e me convencer que essa ou aquela eram as melhores calças para mim, e eu acabei por comprar essa ou aquela; a não ser que decida produzir minha própria calça será sempre assim. Essa foi  a teoria elaborada por Foucault, filósofo Francês do século passado. Basta olhar a nossa volta, somos manipulados 24 horas por dia porque permitimos, com as nossas liberdades, que o outro saiba tudo sobre nós. Minha preferência sexual, minha ideologia política, meu estado de saúde, minha crença, como educo meus filhos, o que gosto de comer, quanto dinheiro tenho, onde gosto de ir e por aí vai. Acredito que estou exercendo minha liberdade quando conquisto o direito de agir como bem quero. Grande engano, e muito pelo contrário. Cada vez mais acreditamos estar conquistando liberdades, quando na verdade o que estamos fazendo é permitindo aos outros que encontrem maneiras de ditar nosso comportamento e nossos hábitos.

Hoje existem produtos e serviços para todos os gostos, e nós acreditamos falsamente que estamos fazendo escolhas. Méra ilusão! Não estamos escolhendo nada, nem nossa profissão, nem nosso emprego, nem nossas roupas, nem a escola que colocamos os filhos nem os médicos que consultamos nem os políticos que elegemos. Somos um produto da imensa maquina da "liberdade".  Um paradoxo sem solução, mas ao qual devemos dar atenção e refletir, caso contrário teremos vivido uma vida como escravos. Quando escuto dizerem que a geração de jovens hoje tem mais liberdade que gerações passadas fico triste, pois se tem algo que esta geração não é, é livre. Não lhes é permitida a liberdade de escolha. Tudo já está determinado. Eles simplesmente tem que apertar um botãozinho e marcar a escolha "a, b, ou c". Ou são geeks, ou são alternativos, ou são populares, ou são ativistas, ou são hetero, ou não, ou de esquerda, de direita ou qualquer outra coisa rotulada. Tudo menos livres. Bons alunos, maus alunos, com potencial, sem potencial... Triste. Atrevidios, ou não.

Liberdade não é libertinagem, mas esses dois termos foram confundidos há muito tempo. A verdadeira liberdade é muito anterior à todas as conquistas; é aquela herdada no nascimento, na privacidade das "quatro paredes" da nossa mente. Somos livres somente quando nossa mente está livre para escolher, sozinha.

Vejam o meu caso; enquanto esta página continuar no ar serei escrava de tudo que nela publíco, estou dando ao leitor minha liberdade de pensar. Estou autorizando interpretações, estou autorizando que tudo que digo seja usado ao meu favor ou contra. Preciso diariamente refletir se vale à pena. Preciso estar atenta se faço por mim ou para o outro. Se eu tivesse que escolher somente um conselho para dar aos meus filhos eu diria "não busquem mais liberdades, protejam a única que vocês realmente tem, a liberdade de pensar. Usem ela ao máximo!"

 

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